terça-feira, 7 de julho de 2015

Sou adotada e daí?

  A pedido de algumas bloggers vou falar um pouco à cerca da minha história e do meu processo de adoção. Nunca fui muito de falar à cerca do assunto, não é que tenha problemas com ele mas apenas nunca tive interesse em falar dele pormenorizadamente, só que lançaram-me este desafio, falar do assunto abertamente e claro que eu aceitei, não há razão para não aceitar. Sim, sou adotada e daí? Muita gente critica, nos dias de hoje nem tanto, penso que a sociedade teve um grande progresso quanto a esse assunto, seja como fôr eu sempre achei muito natural. Cheguei a ser vitima de bullying enquanto criança por ser adotada, ora bem, hoje rio-me do assunto como é obvio mas na altura foi complicado ultrapassar e entender até porque eu não passava de uma criança. 
  Mas bem, vamos ao que interessa, aproveito para acrescentar que há certos pormenores que não vou divulgar pois tornam-se demasiado delicados. Atenção que tudo o que eu disser aqui foi-me transmitido, neste caso aos meus pais adotivos por assistentes sociais.
  A minha “mãe" biológica é natural de Moçambique, no entanto penso que sempre viveu no Porto e o meu “pai" de Lamego, não sei em que circunstâncias se conheceram, sei apenas que desse contacto nasci eu. Pelo que sei esse senhor era bastante rico, já ela pelo contrário era muito mas mesmo muito pobre e quando ela descobriu que estava grávida esse traste que não sei mais como o chamar, basicamente teve uma terrível reação, partindo para a violência e fugindo logo a seguir. A minha “mãe” não teve como cuidar e manter um filho, embora tenha tentado arranjar alguém não conseguiu. Mais tarde eu nasci na Maternidade Julio Dinis no Porto e a minha “mãe” deixou-me lá, pelo que me disseram ela não conseguiu olhar para mim quando nasci pois tinha receio de não me conseguir deixar. Penso que deu um nome falso na Maternidade, embora eu saiba o seu nome verdadeiro. Muitos de vocês devem perguntar se já tive curiosidade em saber quem são. Sim, é claro que sim, a minha “mãe” somente pelo menos para lhe agradecer o gesto de me ter deixado no hospital e não num caixote do lixo como muitas, mas nunca tive uma grande curiosidade. Permaneci no Porto ainda algum tempo, entre a Maternidade e o Hospital Maria Pia. Mais tarde fui transferida para uma família de acolhimento em Alpendurada e Matos, situada em Marco de Canavezes. Permaneci lá uns três anos, numa família enorme e fantástica que hoje ainda mantenho contacto. Após três anos fui adotada pelos meus pais adotivos, pelo que a minha mãe me diz o processo de adoção não foi muito complicado, durou apenas nove meses, engraçado não é? Normalmente demora bem mais, por vezes anos e anos, neste caso eu e os meus pais tivemos muita sorte. Após me habituar à família mudei-me para a linda cidade de Amarante onde permaneço até hoje mas jamais esqueço a grande Invicta, onde nasci e onde se tudo correr bem irei construir uma vida. 
  Sou muito feliz com os meus pais, tenho tudo o que um filho deve ter, até mais se calhar, penso que eles me dão demasiado por vezes, talvez para me compensar e para eu me sentir realmente filha deles mas claro que isto não tem sentido nenhum, eu sinto-me filha deles desde o inicio, desde que tive a oportunidade de lhes chamar de pais, e digo-vos, tenho a maior sorte do mundo, não vou partilhar o porquê, prefiro que fique só para mim mas acreditem quando vos digo que sou a filha mais amada deste mundo e sem dúvida das mais sortudas. 
  Os meus pais também não guardam rancor dos meus “pais” biológicos, mais concretamente da minha “mãe”, até porque decidiram batizar-me com o nome próprio que ela escolheu, numa espécie de homenagem, apenas mudaram os apelidos, antes eram “Alves Duarte”, hoje são “Fonseca Azevedo”. Felizmente os meus pais não são rancorosos e tiveram o cuidado de manter o meu nome biológico.
  Hoje não penso muito nesse assunto, já visitei tanto Massarelos, onde a minha “mãe” biológica morava, assim como Lamego, estive sempre perto das minhas origens mas nunca tive aquela imensa curiosidade de os conhecer. Hoje apenas conheço os meus pais, os meus VERDADEIROS pais, aqueles que me criaram e que lutam todos os dias para que eu seja alguém na vida. Se sou feliz com eles? Ohh, sou tão feliz, afinal “parir é dor, criar é amor” e na verdade não há como não ser feliz rodeada de amor por todo o lado.

  Basicamente é isto, caso queiram saber mais alguma coisa estou disposta a responder às vossas perguntas.

  Catarina'Azevedo

4 comentários:

  1. Quem cria, dá amor e carinho, é que é verdadeiramente pai e mãe, fazer filhos filho é fácil, criá-lo, nem tanto. Logico que existem situações de desespero imprevisíveis na vida, mas quem ama realmente, não se desvincula totalmente de um filho. Tiveste sorte de ter uns pais que te amam, parabéns por isso, infelizmente nem todas as crianças tem essa sorte.
    Beijinhos
    Clara Dinis
    docinhomorango7.blogspot.com

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada pelas tuas palavras Clara, tive a maior sorte do mundo e devo isso aos que me criaram :)
      Beijinhos*

      Eliminar
  2. Tens toda a razão, o mais importante é o amor e quem cria é que são os verdadeiros pais :)

    ResponderEliminar