Sinto que o oxigénio
é demasiado para passar pela minha garganta a baixo, como se algo ou alguém
estivesse a apertar o meu esófago a ponto de não me querer deixar respirar, mas
eu vou conseguindo, aos poucos mas vou. As quatro paredes do meu quarto
sentem-se esgotadas ao verem o meu sofrimento, ao me verem de joelhos no chão
já sem forças para me levantar. As minhas lágrimas vão secando aos poucos, o
meu corpo precisa de hidratar mas nem a água me faz matar a sede, pois é a
única sensação que consigo sentir, sede,
sede de voltar a viver, sinto fome de
voltar a sentir vontade de comer, sinto cansaço de só me sentir aliviada quando
o sono finalmente bate à porta e só rezo para poder dormir o mais tempo possível
para não sentir este sufoco. Ele está a esgotar-se, esse é o meu medo, estou
com medo de chegar ao ponto de ficar de tal maneira intocável e não conseguir
sentir realmente nada, nem um simples toque, nem importância por nada nem
ninguém, sinto medo de estar a perder a minha humanidade consoante cada lágrima
e cada berro que sai do meu corpo.
Todas estas
sensações estão aqui presentes ainda e será a elas que me vou agarrar para não
me deixar cair, a elas e á minha sede de voltar a viver, de voltar a conquistar
o mundo com o meu sorriso e com a minha força, porque eu sei que ela está por
aqui algures bem escondida com receio de aparecer mas ela vai ter a coragem de
vir ao de cima quando eu menos esperar e com ela e ajuda dela e apenas dela eu
irei triunfar, irei voltar a respirar o ar por mim mesma e não aquele ar que me
foi dado durante quase uma vida, vou ser eu a respirá-lo sozinha e a saborear a
minha vitória, pode demorar, pode custar, pode até mesmo doer mais e mais mas
vou conseguir. Não irei provar a ninguém, irei provar sim, a mim mesma. Por isso, por mais que a dor vos tire a beleza do mundo à vossa frente, nunca desistam de ser felizes, pode demorar mas há-de chegar e aí vocês darão ainda mais convicção à vossa felicidade.
Catarina'Azevedo
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